TEXTO APRESENTADO POR VERA MEIRELLES EM PALESTRA REALIZADA NO ESPAÇO SINGULAR
EM 24 DE NOVEMBRO DE 2012. ESTIVERAM
PRESENTES PAIS, EDUCADORES E EQUIPE DO STUDIO SAPU.
PALESTRA SOBRE A INTERDISCIPLINARIDADE EM UMA INSTITUIÇÃO
Pensamos em promover esse encontro
em função das reformas que acontecerão
aqui no final de ano e torná-los a par da escolha pedagógica do Berçário que
segue a linha Construtivista.
Existe uma concepção sobre o
Construtivismo que simpatizo muito: “significa a idéia de que nada, a rigor
está pronto, finalizado e de que, especificamente, o conhecimento não é dado,
em nenhuma instância como algo acabado, ele está sempre em movimento. Ele se
constitui a partir da interação do indivíduo com o meio físico e social, com o
simbolismo humano, com o mundo das relações sociais e se constitui por força de
sua ação e não por qualquer dotação prévia”.
Essa escolha pedagógica que reúne
várias competências tem como foco a complementaridade de um “olhar” sobre a
criança e seu entorno.
O Berçário Espaço Singular, conta
com uma equipe multidisciplinar composta por pedagogos, psicólogos,
psicanalista, nutricionista, psicopedagogos, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional,
auxiliar de enfermagem, pediatra, cuidadores e agora uma arquiteta visando,
todos, promover um “lugar” para as demandas manifestadas pelos bebês, ao longo
do seu crescimento.
A Interdisciplinaridade e o Construtivismo
estão na mesma linha de pensamento. A Reforma a ser feita é um exemplo dessa
construção interdisciplinar assim como o nosso objetivo, também é formar uma
equipe que tenha um conhecimento sobre essas diversas disciplinas, desta forma
a equipe se aperfeiçoa, assim com eu. A Escola também valoriza a participação
da família e a função parental nos diversos aspectos do desenvolvimento dos
pequenos e por isso seu interesse em querer que os pais se apropriem também,
dos dispositivos e lugares que esta lhes oferece.
A presença dos pais é fundamental
para a passagem da família para o mundo de vocês. Vocês contribuem, estando em
sintonia conosco, para a futura socialização. Tem uma passagem da família para
a escola. Aqui é um lugar de separação e encontro com a procura. É difícil para
os familiares assim como para as crianças. A comunicação entre a equipe e os
pais é indispensável.
Esta instituição tem, dentre
outras, duas premissas básicas: leva em consideração que “o bebê é um sujeito e
que a comunicação entre os sujeitos está assentada na linguagem falada e
corporal, a linguagem só se constrói na relação com o “outro”, o olhar do
encontro, onde o bebê se reconhece. Por isso a importância de fazermos uma
reflexão, sobre as nossas observações cotidianas, privilegiando, sempre, o
singular. Entenda por “singular” algo que está ligado a
olharmos o bebê ou a criança levando em consideração a sua subjetividade.
Entendemos que quanto mais cedo
pudermos cuidar das manifestações que a criança apresenta melhor será seu
desempenho e desenvolvimento. Às vezes o melhor que se pode fazer não é o
suficiente. A relevância da primeira infância nos obriga a não sermos
profissionais omissos frente às alterações que a criança poderá manifestar afim
de não comprometermos o seu desenvolvimento nos anos que se seguem. É muito
importante que os pais olhem as crianças pelo que elas são e não, só, pelo que
eles vêem.
Entendemos que a
interdisciplinaridade possibilita uma melhor capacitação do profissional da
área de educação, quando oferece a este, mais recurso e elementos que possam
ajudá-lo na constituição do vínculo com o bebê e nos diversos “saberes” sobre ele.
Alguns segmentos já pensam na formalização do modo de participação do cuidador
em creche, no desenvolvimento e subjetivação de bebês de até 18 meses, a partir
da discussão das funções que lhe concernem: cuidar, educar e prevenir, vocês sabiam?
Essa interação entre os saberes é
de fundamental importância, para este “olhar” sobre a criança. O nosso
interesse cresce a cada dia e tem nos surpreendido com os resultados e
desdobramento, dessa forma de atuar. Essa prática pode agregar valores, contextualizar
o que é observado nos diversos espaços e ampliar a nossa possibilidade de “um saber”
sobre uma determinada realidade que envolve aquele bebê. Aquele que cuida se
sente responsável. Com isso a escola se torna uma via de sustentação
possibilitando a família exercer uma “troca” com ela e, portanto ter mais
elementos para acompanhar o dia a dia do seu filho, do seu bebê em um ambiente
seguro, tranqüilo e aconchegante.
A integração da equipe permite
que os profissionais envolvidos troquem as suas observações entre si e possam
contemplá-las quando estiver com a criança. Isto vai criando uma capacidade
interna de elaboração dos profissionais do grupo, propiciando para cada um uma
participação mais ativa no processo. Essa reunião de informações que estão
disponibilizadas para o coletivo, enriquece o nosso trabalho e a nossa
apropriação sobre o mundo da criança.
Esta proposta de trabalho é um desafio desta
instituição que, cada vez mais, acredita no fazer e considera o lugar da
criança, um “lugar sagrado”!
A REFORMA FÍSICA DO BREÇARIO
Para a reforma física que acontecerá no
berçário, contratou-se ‘uma equipe’ para pensar nas mudanças e adaptações
necessárias ao funcionamento do estabelecimento e das pessoas envolvidas direta
e indiretamente com ele. Uma equipe e diversos olhares para criar um espaço onde
o “todo” e o singular sejam contemplados e esta é a
pedagogia do Berçário Espaço Singular, pelo menos, uma parte dela. O espaço deve ser contemplado como algo que
venha a imprimir uma qualidade para a vida dos bebês. Ele tem uma função e está
diretamente ligado à rotina da escola. Todas as atividades estão pautadas na
disposição do espaço, portanto ele precisa e deve ser funcional.
O
espaço tem também um papel de educador quando ele é um facilitador para o
aprendizado e possibilita que as trocas sociais aconteçam de forma harmoniosa e
em um tempo possível e adequado para os pequeninos. Já o ambiente envolve não só o espaço físico
como o humano e a qualidade desse espaço é muito importante. Esta relação que
os pequenos têm com o ambiente que habita é determinante na sua constituição
subjetiva e na sua identidade.
A
criança, inserida na rede social escolar, precisa se organizar no espaço que habita
aprender com ele, circular por ele de forma lúdica e simples. O uso adequado do ambiente deve ser uma característica a ser contemplada na educação. “O espaço
deve ser pensado a partir do ritmo e contexto social da criança”.
“Promover a competência pensando no ambiente
significa planejar situações e intervenções espaciais que possam ajudar a
criança a resolver problemas por si mesmos, estimulando a conquista da
independência do adulto rumo à autonomia.
Para um
pediatra inglês chamado Winnicott, é muito forte a influência que o meio
ambiente exerce sobre a constituição da subjetividade do sujeito e diz: inicialmente
a vida psicológica do bebê está pautada pela relação com a mãe e com o meio
ambiente.
Por
isso acreditamos que essas mudanças físicas proporcionarão outras mudanças para
a dinâmica da instituição assim como a inauguração de novos espaços!
APRESENTAÇÃO
Aproveitando
a contemplação de novos espaços gostaria de falar sobre o meu trabalho nesta
instituição, contar um pouco às funções que desenvolvo aqui e que lugar ocupo. Sou
Socióloga, Pós Graduada em Psicologia Clinica, Psicanalista, trabalho com bebes,
crianças, família e sou Acompanhante Terapêutica.
Estou à disposição nesta
instituição porque tenho um conhecimento do infantil, da primeira infância com
seus aspectos e do vínculo familiar e social. Estou aqui para que as coisas
ocorram bem, para oferecer essa função e ser uma intermediadora. Estou presente
na sala de aula, na entrega, na saída, conversas com a diretoria, conversa com
os cuidadores, os pais e no Plantão Psicológico.
Minhas funções no berçário se
constituem na observação sistemática dos bebês junto com a equipe e atendo no
Plantão Psicológico, as quartas-feiras, das 17h30min às 20hs. Esse trabalho com
a equipe envolve: intercambiar informações sobre o que foi observado na criança
para todos os profissionais dos respectivos grupos, discussões de temas que
fazem parte da rotina das crianças através de textos e conversas dirigidas e discussão
sobre que tipo de intervenção será adotada.
Já no “Plantão” tenho a
oportunidade de encontrar os pais e conversarmos sobre questões de ordem
emocionais, comportamentais, psíquicas e outras que surgiram a partir de um determinado
momento, envolvendo seu filho. Essas conversas podem ser apenas com os pais ou
com os pais e a criança. Após essa primeira conversa, se for o caso, passo a
observar de forma mais sistemática a criança dentro do grupo a que pertence e posteriormente, convido- os para um encontro onde
dou uma devolutiva das minhas observações. Assim podemos trocar algumas idéias e
propormos sugestões, se for necessário, para uma melhor compreensão do que está
acontecendo.
Este dispositivo tem sido
relevante no dia a dia com a criança e seus cuidadores. Esse tipo de
intervenção impede a permanência de determinados mal estares que causam desconforto
para as crianças e dá mais subsídios aos pais para que possam lidar melhor com
aquela situação.
O trabalho conjunto permite que a
equipe possa lidar com a realidade de uma forma mais participativa, mais
grupal, sendo este fator determinante para o tipo de vínculo que a criança vai
desenvolver com o outro. É esta
pluralidade que da riqueza ao trabalho, permitindo cuidar de forma preventiva
os incômodos que afetam os nossos pequenos.
Obrigado a todos e me coloco à
disposição dos presentes para aquilo que acharem necessário!
Vera Meirelles