domingo, 9 de outubro de 2011

Colher jabuticaba no pé...



Lembro de muito pequena gostar de pegar as frutas no pé. Morava em uma vila de bairro e na casa da minha vizinha havia uma amoreira.  Lembro de ficar muito feliz nesta época do ano porque ao voltar da escola ia com meu irmão mais velho "roubar" as frutinhas. Todas as crianças da vila faziam o mesmo, então formávamos quase uma "gangue" de crianças a infernizar a pobre vizinha e suas amoras. Tive esta sorte de ter uma vizinha com uma amoreira gigante e outra que trabalhava no CEAGESP. Esta eu infernizava gritando em sua porta: "Leonia, tem cascaxi"? "Tem banana nanica?" "Buticaba"? As buticabas, que mais tarde aprendi a chamar de jabuticabas, eram minhas preferidas. Podia passar horas sentada estourando as bolinhas doces em minha boca. Adorava todo o ritual de comer e brincar com as bolinhas.
Cresci e fui estagiar em um Hospital Dia.  Lá,  e não no meio acadêmico, aprendi a ser a psicóloga que sou hoje, digo isso porque aprendi a olhar as pessoas e escutá-las de fato com afeto. Neste hospital, em seu pátio central, há uma formosa jabuticabeira e é em torno dela que todo o dispositivo terapêutico acontece. Ah...quantas conversas, oficinas e sorrisos preencheram meus dias e dos pacientes ao redor daquela jabuticabeira. E nos momentos difíceis, era como se ela estivesse ali para nos consolar. 
Anos se passaram e escolhi para o berçário uma casa com árvores frutíferas, entre elas uma linda jabuticabeira. Todos esperam ansiosos pela primavera, época que poderemos colher do pé as frutinhas...
Nesta quinta-feira estava conversando com uma mãe da escola no portão quando Regina, nossa cozinheira, veio me comunicar...Vamos colher jabuticaba!
Tratei de interromper logo a conversa e correr para o jardim. Todas as crianças do G1 e G2 estavam lá, Regina tentava subir no pé...Mas cadê a escada?
A escada estava sendo usada pelos rapazes da manutenção das câmeras da escola. Pedi educadamente que nos emprestassem. Iríamos escalar a árvore. Aí que aventura! Eles se dispuseram, por alguma razão a ajudar na tarefa. Todos iriam participar. 
Quando vi toda a escola estava em volta da grande árvore, eu em cima da escada podia ver tudo...crianças, cozinheira, faxineira, rapazes das câmeras com uma bacia na mão. Todos recolhendo as bolas pretas que caiam do céu.
- Uma criança diz: "Tá chovendo!"
Estava chovendo jabuticaba na escola.
- Crianças começam gritar em coro: "Vai Kaká". Me estimulando a jogar mais "bitucabas" do céu.
Todos estavam felizes...um dia lindo pra pegar fruta no pé.

Descobri mais tarde que rapazes da manutenção nunca tinham colhido jabuticaba no pé, um deles me disse: "-Que legal. Não sabia que nascia assim no pau da árvore. Quando for escolher a escola na minha filha, vou escolher uma assim, com verde, agora acho importante."
Em meio a risos, um amigo, colega de trabalho daquele hospital que trabalhei, me liga. Pego o telefone e orgulhosa sinto a voz entusiasmada sair: "Você não sabe o que eu tavá fazendo? Colhendo jabuticaba no pé!!"

Disse isso como quem diz algo extraordinário. Da minha sala vejo o sorriso de todos que ainda estão no jardim, unidos em volta da árvore formosa...é tinha razão: Algumas coisas simples são mesmo extraordinárias.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Grupo para gestantes


Num grupo de gestantes a primeira coisa que sabemos é que sabemos e não sabemos! Temos um conhecimento próprio, que faz parte da nossa vida, das nossas vivências e ele nos é muito útil e singular nesse momento da maternidade. Isso quer dizer que nós carregamos um “saber instintivo”. Outro tipo de conhecimento é aquele que está sustentado na cultura e que é tão importante quanto porque nos ajuda a ter parâmetro e nos organiza mais, dentro do nosso ambiente. Não é suficiente o conhecimento teórico, ainda não há um “fora” e um “dentro”. Ter uma apropriação disso é fundamental para entender e acolher as demandas internas das futuras mamães. A relação mãe/filho é importante na constituição subjetiva do sujeito: a mãe vai se identificando com o bebê que cresce dentro dela, tecendo com ele uma relação de intimidade e confiança.
É muito importante que a gestante possa ter um espaço de reflexão e troca para poder lidar, da melhor maneira, possível, com as questões quem envolvem a maternidade, que são tantas!
Poder cuidar da gestação é também, investir, preventivamente, em um parto mais tranqüilo e um olhar, diferenciado sobre o bebê. É trabalhar essa relação desde os seus primórdios. Assim como, se sentir mais confiante para as demandas do futuro, que virão quando o bebê nascer. Tudo isso tem uma séria e determinante influência sobre o desenvolvimento do vínculo mãe/bebê.
Um pediatra e psicanalista de crianças, D. W. Winnicott ressalta a importância da confiança que as mães precisam ter nelas mesmas, quando diz:

“... Quero que vocês consigam se sentir confiantes em sua capacidade como mãe, e que não pensem que, por não terem um conhecimento profundo de vitaminas, não sabem, por exemplo, a melhor maneira de segurar seu bebê no colo”.
Esse olhar sobre a gestante, desde os primórdios da gravidez, contribui para uma melhoria psíquica e emocional da dupla mãe/bebê.
A dinâmica do grupo contempla também questões relativas ao período da gestação tais como:
. o desejo dos pais;
. os sonhos;
. os diversos tipos de sensações e inquietações que a gravidez provoca; as mudanças    físicas, próprias à gestação;
. o vínculo da mãe com seu bebê e o corpo da mãe enquanto um corpo para o bebê;
. atividades corporais;
. um olhar diferenciado para a amamentação;
. a dinâmica familiar;
. o lugar do pai nesta nova configuração;
. um olhar sobre a parentalidade;
. o que ocorrer.


PERIODO DO GRUPO

ENCONTROS QUINZENAIS (AOS SÁBADOS) das 09:00 às 11:00.