Tirar as fraldas não é algo fácil. Não gosto muito da expressão treinamento, prefiro dizer desfralde, porque neste processo estão sempre muitas questões envolvidas que vão além de técnicas de aprendizagem.
Em primeiro lugar a criança deve estar com seu aparelho neurológico apto ao controle dos esfíncters, que em crianças com desenvolvimento normal, acontece após os dois anos. Importante ressaltar que antes disso a criança pode ter ou não este controle e como só podemos saber se de fato há a maturação neuronal adequada por tentativa e erro, um desfralde precoce pode impor à criança um desafio impossível. A criança será assim demandada a algo que o corpo não pode responder. Isto pode gerar muita angústia e atrapalhar o processo futuro, quando de fato a criança poderá controlar seu corpo.
Mas não basta apenas que a criança possa estar neurologicamente pronta para que o desfralde aconteça. Neste processo estão envolvidos as angústias familiares e da própria criança.Para os pais o desfralde representa um rito de passagem, seu filho, deixa de ser um bebê e está crescendo, o que gera muita ambiguidade. Querer que o filho cresça em contra partida ao desejo latente de que fique sempre pequenino. Os pais terão que lidar também com suas próprias questões referentes à sujeira que todo processo irá acarretar. Escapes vão acontecer e não há nada que se possa fazer com relação a isso. Pais muito angustiados com a limpeza e organização tendem a ser menos assertivos no desfralde, porque a criança precisa ter segurança que ao errar tudo ficará bem. Mesmo que um xixi ou cocô escape no sofá branco da sala.
Por outro lado a criança sente muita angústia ao sentir suas primeiras produções, xixi e cocô, sairem do corpo e literalmente descerem ralo a baixo. A criança demora a entender que, o cocô principalmente, não faz parte dela e que pode ir embora sem que isso acarrete em perdas mais significativas. Algumas crianças irão segurar o cocô até que lhes coloquem as fraldas. Isto é normal e é bom esperar o tempo da criança para que ela elabore a separação de suas queridas produções.
Caso a criança frequente a escola, esta deve e pode ajudar neste processo. Escola e pais devem trabalhar em conjunto para que tudo corra bem.
Uma boa dica é jogar as fezes no vaso, mesmo após serem feitas na fralda. Isto auxilia no processo de separação. A criança também se beneficia ao observar os pais irem ao banheiro, o que mais uma vez pode ser de grande constrangimento para famílias mais retraídas a estas questões. Outra boa dica é usar no início do desfralde fraldas de treinamento. Estas fraldas permitem que a criança as tirem quando necessário, mas seguram eventuais escapes.
A criança deve participar de todo o processo, por isso deve estar junto na escolha das calcinhas ou cuecas e do seu penico. Algumas crianças não gostam do penico e nestes casos vale a pena adaptar o vaso com um adaptador e um apoio simples de madeira para os pés.
Contudo o mais importante é que a criança possa ser respeitada em seu tempo e que possa assim se apropriar do processo de desfralde e com isso de seu próprio corpo. Passado os primeiros momentos mais difíceis, usar a privada, deve virar mais uma brincadeira, como tudo que é bom na vida dos pequenos!
Nenhum comentário:
Postar um comentário