terça-feira, 9 de agosto de 2011

O Berçário e suas funções

A escola é um importante lugar social da criança, todas deveriam passar por uma escola e, portanto por uma professora. Em nossa cultura não há dúvidas, uma criança deve ir à escola.  Podemos divergir quanto à data de entrada recomendada para a inserção de cada individuo neste lugar social, e suas conseqüências. Podemos divergir quanto à linha pedagógica que cada escola deve seguir, mas é fato que a criança está inserida no lugar social de aluno pelo discurso contemporâneo.  Ser aluno, ocupar o lugar de aprendiz dá borda e sustenta um lugar social importante, lugar de infância e suas particularidades. Lugar de apreender o mundo.
No Berçário Espaço Singular aceitamos crianças a partir de 3 meses de idade.  Muito freqüentemente recebemos pequeninos que até então apenas tiveram contato com seus familiares e pediatra de referência. Bebês que já ocupam lugar de alunos de uma professora que os olha. Educadora auxiliar do lugar materno que deve dar continuidade a cadeia de significante já iniciada pela função materna. A mãe deixa a criança aos cuidados da instituição confiando que todo ritmo diário de cuidados para com seu filho tenha continuidade. Demanda que este ritmo seja mantido para que ao final do período de sua ausência possa continuar a fazer marca em seu bebê, sujeito em constituição.
Cabe a educadora a sensibilidade e comprometimento para sustentar este lugar. Responsabilidade de quem cuida e que faz marca na ausência materna. Cuidar de um bebê é antes de tudo cuidar de uma mãe. Mãe aflita que ao delegar os cuidados de seu bebê pede a toda a equipe que seu esforço de sustentação de uma unidade psíquica e orgânica frágil se concretize a partir do suporte de traços e ritmos do infans, traços estes em que presença e ausência na dupla mãe-bebê estão inseridos.
Neste contexto a instituição deve dar suporte à função materna. Contudo, ao estar inserida no discurso da cultura como um outro a delimitar ao bebê uma outra posição psíquica e social, a instituição de ensino da primeira infância faz marca a partir de sua posição discursiva. Delimita o lugar do bebê como aluno de uma escola, pertencente a um social além do lugar de filho de uma mãe. Não que esta seja a real intenção da instituição, mas por estar inserida na cultura, a escola faz função. Função de um terceiro a romper com a onipotência da dupla e semear falta onde poderia não haver.
             Pensando neste lugar em que a escola para bebês ocupa e na problemática do diagnóstico precoce dos Distúrbios Globais do Desenvolvimento, poderíamos pensar em uma maior formação sobre a constituição do sujeito das profissionais de primeira infância e porque não pensar em um maior suporte clínico que as habilitassem a olhar de forma mais ampla para seus bebês-alunos. Formação e suporte que tornariam mais viáveis possíveis encaminhamentos anteriores a etapa da alfabetização, quando há na criança uma maior plasticidade psíquica e, portanto um melhor prognóstico de tratamento.   

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