sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Texto de Vera Meirelles, psicanalista do "plantão" no Espaço Singular, sobre o brincar.

O “Plantão Psicológico” é uma iniciativa do “Berçário Espaço Singular” que tem, dentre outros objetivos, a produção e criação de textos, com temas que possam fazer despertar, sensibilizar e levar os pais a uma maior reflexão e apropriação do desenvolvimento do seu filho, povoado de coisas que precisam ser contempladas nas suas diversas formas de expressão, dentre elas, o brincar.
Existe uma tradição do brincar e das brincadeiras que perduram, mas a relação da criança com os jogos e as brincadeiras tem mudado, bastante, ao longo dos anos. Antigamente, a própria forma de viver contemplava um “tempo” para jogos e brincadeiras, e os brinquedos estavam fundamentalmente ligados à cultura do ambiente. As histórias e brincadeiras que passavam de geração para geração – e ainda passam - eram contadas para nossos filhos, por nós, mães e avós, mas acabaram perdendo espaço, não fazendo, praticamente, mais parte do cotidiano, enquanto uma prioridade. Com o passar do tempo, acompanhando as mudanças dos referenciais sociais, não podemos deixar de perceber como somos atravessados no nosso cotidiano e o visível distanciamento físico e emocional entre sua mãe e seu bebê. A comunicação entre os membros familiares precisa ser preservada, priorizada e a atenção dos pais, para se fazerem presentes, são importantes na constituição do bebê.
O lugar paterno é fundamental no desenvolvimento emocional da criança e o apoio dispensado à mãe, por este pai, contribui para um bom ambiente. Se o bebê é dependente dos cuidados maternos cabe a mãe proteger o bebê “de invasões ambientais”, a mãe é quem apresenta o mundo para o seu bebê, é ela a “representante” do dentro e do fora, quem permite e facilita a comunicação entre o bebê e o mundo; assim um cuidado adequado conduz a uma melhor integração. Se a cada dia esta mãe está sendo inserida em novos ritmos de vida – ritmos muitas vezes frenéticos -, como responderá este bebê às solicitações do mundo interno e externo? E de que forma o brincar pode ser um fomentador de compreensão e apropriação deste mundo, ou partes deste mundo que vão ficando cada vez mais distantes e esquecidas?
Segundo alguns autores, além da função, da natureza e de sua importância, brincar é fundamental, porque:
  • é uma atividade espontânea e prazerosa;
  •  é uma forma de expressão e comunicação;
  • serve para falar de coisas que não são “faláveis”;
  • ao brincar, as crianças revelam características próprias;
  • uma criança que brinca é uma criança que sonha, fantasia e tem projeto;
  • o jogo é uma forma de comunicação, a criança comunica coisas quando ela joga ou brinca e aceita a possibilidade de ganhar ou perder;
  • o jogo tem uma função na constituição da subjetividade da criança;
  • é também uma experiência de autonomia;
  • pode-se ver os jogos e brincadeiras como uma representação e reconhecer elementos que se referem ao mundo interno da criança;
  • amplia a capacidade do bebê de criar, imaginar, inventar e produzir um novo objeto, um novo mundo.

Refletir sobre tudo isso pode contribuir para tornar o dia a dia da criança mais harmonioso, ampliando a comunicação entre os pais e a criança, a criança e seu mundo. “O êxito no cuidado infantil depende fundamentalmente da devoção de quem cuida”, portanto o “olhar” de uma mãe faz toda a diferença!
Citando José Saramago: “Se puderem ver, olhem e se olham, observem!”



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